Garantias constitucionais e legais, como as do contraditório e da ampla defesa, entre outras, também devem ser observadas nas relações entre entidades privadas, sob pena de o Poder Judiciário intervir para afastar eventuais abusos.

8 de maio de 2024

tribunal de justiça Bahia tj tj-ba

TJ da Bahia atendeu ao pedido feito pela entidade estadual na ação

Com essa fundamentação, a 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia, por unanimidade, deu provimento a um agravo de instrumento interposto pelo Grande Oriente do Brasil — Bahia (GOB-BA), concedendo tutela de urgência para cassar os efeitos de dois decretos do Grande Oriente do Brasil (GOB) que o desfiliaram.

“O controle judicial de atos praticados por associações civis, interna corporis, é medida excepcional, que se justifica apenas quando restarem presentes indícios de ilegalidade do procedimento administrativo ou inobservância aos princípios do contraditório e da ampla defesa”, destacou a relatora, desembargadora Maria de Lourdes Pinho Medauar.

De acordo com a magistrada, no agravo de instrumento não se analisou o mérito da decisão da federação maçônica, mas a legalidade do seu procedimento administrativo em relação ao GOB-BA, que se revela, neste momento, “equivocado” devido à falta de motivação.

Ao deferir a tutela, a relatora avaliou o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação. “A manutenção da decisão agravada causará indiscutível prejuízo à associação autora, dado a supressão dos seus direitos de associada e a probabilidade de ocasionar a sua total inatividade, ante os diversos pedidos de desfiliação realizados por lojas maçônicas.”

Disputa interna

O GOB-BA ajuizou ação anulatória com pedido de indenização por ato ilícito, alegando que o GOB o expulsou de forma sumária da federação maçônica, em clara violação a garantias constitucionais. O juízo da 2ª Vara Cível e Comercial de Salvador indeferiu o pleito de tutela de urgência da parte autora, motivando a interposição do agravo.

A entidade estadual anexou à inicial dois atos assinados pelo presidente do GOB (grão-mestre geral), em 8 de maio de 2023. Um deles excluiu o GOB-BA da federação e o outro criou uma delegacia regional com vistas a fundar um novo ente federado na Bahia.

Com quase três mil associados, filiados em 116 lojas maçônicas sob a sua jurisdição, o GOB-BA sustentou que os atos do grão-mestre geral são abusivos e desprovidos de justa causa. Segundo a entidade, o suposto motivo da sua expulsão da federação foi “disputa eleitoral interna e a derrota, na Bahia, do grupo que controla a entidade nacional”.

A relatora observou que a parte agravada apresentou “alegações genéricas”, as quais em momento algum rebateram a questionada expulsão sumária do agravante. O GOB também não comprovou que o ato de exclusão da unidade baiana foi antecedido de procedimento interno, com a garantia do contraditório e da ampla defesa.

“Em observância ao regramento do artigo 57 do Código Civil e em respeito à eficácia horizontal dos direitos fundamentais, as associações civis estão adstritas aos ditames da Constituição Federal”, assinalou Maria de Lourdes, ao reformar a decisão agravada.

Os desembargadores Mário Augusto Albiani Alves Junior e Edson Ruy Bahiense Guimarães seguiram a relatora. Conforme o acórdão, há “fortes indícios” de supressão de direitos fundamentais nos atos que desfederalizaram o GOB-BA e criaram a Delegacia Regional no mesmo estado.

AgIntCiv 8033110-33.2023.8.05.0000.1

Fonte: Conjur

Taxa Selic, em 10,75% ao ano, deve cair 0,25 ou 0,5 ponto percentual

08/05/2024

Com a possibilidade de divisão entre os membros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decide nesta quarta-feira (8) o tamanho do corte na taxa básica de juros, a Selic. A recente alta do dólar e os juros altos nos Estados Unidos trouxeram a indefinição se os juros básicos, atualmente em 10,75% ao ano, serão reduzidos em 0,25 ou 0,5 ponto percentual.

Nos comunicados da última reunião, no fim de março, o Copom informou que os diretores do BC e o presidente do órgão, Roberto Campos Neto, tinham previsto, por unanimidade, um corte de 0,5 ponto percentual no encontro de maio. No entanto, o mercado financeiro global enfrentou fortes instabilidades desde então, o que reduziu a previsibilidade do encontro.

Em viagem para a reunião do G20 (grupo das 19 maiores economias do planeta, mais União Europeia e União Africana), em abril, o presidente do BC disse que a decisão do Copom dependeria do nível de incerteza na economia global.

Segundo a edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, a taxa básica deve cair 0,25 ponto percentual. Até semana passada, a expectativa estava em corte de 0,5 ponto. Para o fim do ano, a estimativa é que a Selic chegue a 9,63% ao ano.

Nesta quarta-feira, ao fim do dia, o Copom anunciará a decisão. Esse será o sétimo corte desde agosto, quando a autoridade monetária interrompeu o ciclo de aperto monetário.

Inflação

Na ata da última reunião, em março, o Copom informou que mudou a forma de comunicar os próximos cortes para dar mais flexibilidade ao Banco Central. Até janeiro, o Copom informava que reduziria a Selic em 0,5 ponto pelo menos mais três vezes. Agora, o órgão informou apenas que cortaria os juros básicos na mesma magnitude no encontro de maio.

Na ocasião, o Copom informou que cumpriu o papel “de coordenar as expectativas, aumentar a potência de política monetária e reduzir a volatilidade”. No entanto, ressaltou que a deterioração da conjuntura internacional tornou mais incerto o cenário para a queda da inflação, não apenas no Brasil, mas em diversos países. A perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos e a guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas dificultam a tarefa do BC de baixar os juros em 0,5 ponto por longo tempo.

Segundo o último boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras feita pelo BC, a estimativa de inflação para 2024 caiu levemente, de 3,73% para 3,72%. Isso representa inflação dentro do intervalo da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3% para este ano, podendo chegar a 4,5% por causa do intervalo de tolerância de 1,5 ponto.

Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, recuou para 0,21%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o indicador acumula alta de 3,77% em 12 meses, dentro da meta para 2024.

Taxa Selic

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.

Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.

Meta

Para 2024, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior é 4,5%. Para 2025 e 2026, as metas também são de 3% para os dois anos, com o mesmo intervalo de tolerância.

No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de março pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a previsão de que o IPCA termine 2024 em 3,5%, dentro da meta de inflação. O próximo relatório será divulgado no fim de junho.

*Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Fonte: Agência Brasil

Por maioria, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou legal a cobrança de taxa de conveniência na venda de ingressos para espetáculos, mesmo que o consumidor retire o ingresso na bilheteria do evento. O colegiado reformou acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que condenou uma empresa responsável pela venda de ingressos a devolver a taxa em dobro quando não houvesse a contraprestação de entrega dos ingressos aos consumidores.

07/05/2024

O recurso teve origem em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público estadual, que questionou a legalidade da taxa cobrada dos consumidores que retiram seus ingressos na bilheteria.

Além de afronta à jurisprudência da corte, a Quarta Turma considerou que houve julgamento extra petita por parte do tribunal fluminense, pois há diferença entre as taxas de conveniência, de retirada e de entrega, que são normalmente cobradas no mercado de intermediação e venda de ingressos para espetáculos.

São várias as taxas cobradas na venda de ingressos

Segundo a ministra Isabel Gallotti, autora do voto que prevaleceu no julgamento, a taxa de conveniência é aquela cobrada pela simples aquisição do ingresso por meio de empresa contratada e diz respeito aos custos dessa intermediação; a taxa de retirada (também chamada de will call) é cobrada quando o consumidor compra o ingresso pela internet ou por telefone, mas, em vez de imprimi-lo em casa, faz a emissão em bilheteria específica colocada à sua disposição; e a taxa de entrega é cobrada quando a pessoa opta por receber seu ingresso em casa, pelo correio ou por outro serviço de entrega.

Gallotti lembrou que a Terceira Turma, analisando caso relativo à taxa de conveniência cobrada na aquisição de ingresso pela internet, com base no que foi decidido pelo tribunal no julgamento dos Temas 938 e 958, entendeu que não há impedimento a que os custos de intermediação da venda de ingressos sejam transferidos ao consumidor, “desde que haja informação prévia acerca do preço total da aquisição, com destaque do valor”.

No caso em análise, a ministra verificou que o Ministério Público não alegou que os custos da taxa de conveniência estariam sendo omitidos dos consumidores. Ao contrário, esclareceu Gallotti, há indicação expressa no sentido de que a empresa oferecia os ingressos “sob o pagamento de valor adicional” e que estaria agregando tal valor ao dos ingressos, ainda que estes fossem adquiridos nas bilheterias.

Para a ministra, se o valor adicional é informado de maneira explícita no momento da compra do ingresso, não há como considerar que houve prática abusiva por parte da empresa.

Taxas de entrega e de retirada estão vinculadas a serviço independente

Em relação às taxas de entrega e de retirada, Gallotti lembrou que, ao contrário da taxa de conveniência, elas não configuram um simples custo de intermediação de venda, mas estão vinculadas a um serviço independente, dirigido ao consumidor que não quer ou não pode imprimir seu ingresso virtual em casa.

De acordo com a ministra, se a entrega em domicílio gera um custo para a empresa responsável pela venda dos bilhetes, a retirada de bilhetes em posto físico também acarreta custos, porque há necessidade de um local e de atendentes, além do próprio custo da impressão.

“Se há serviço disponibilizado ao consumidor, que pode optar, a seu critério, se vai imprimir seu ingresso em casa, se vai solicitar que ele seja entregue pelos correios, ou se vai preferir retirá-lo em bilheteria, e se o valor cobrado pelo serviço é acessível e claro, não há que se falar em abusividade”, concluiu.

REsp 1.632.928

Fonte: STJ

Motivada pelas novas configurações familiares, a proposta prevê mudanças em diversas áreas, modernizando o Código Civil

07/05/2024

Em fevereiro de 2024, a comissão de juristas encarregada pela reforma do Código Civil apresentou, ao Senado, a proposta de uma nova redação para determinados dispositivos do ordenamento jurídico, que impactam o Direito em relação às famílias. O grupo, composto por 38 juristas, concluiu a votação sobre as propostas ainda na primeira semana de abril, após longos debates, e apresentou o anteprojeto ao Senado nos dias subsequentes.

Segundo a advogada especialista em Direito de Família da Assis Gonçalves, à medida que as famílias se modernizam, o Direito deve acompanhar essa evolução, promovendo atualizações, como as propostas pelo novo Código Civil. “A atualização do Código Civil e legislações correlatas está sendo motivada pelo reconhecimento da pluralidade na constituição das famílias. Hoje, vemos uma variedade de arranjos familiares que já havia sido acolhida pela doutrina e pela jurisprudência, mas não encontrava respaldo de forma expressa na legislação civilista. Essa diversidade reflete a realidade da sociedade contemporânea, na qual as organizações familiares, baseadas na afetividade, devem ser devidamente amparadas”.

Eloise destaca a importância das mudanças no Código Civil atual, salientando que, apesar de ter entrado em vigor a partir de 2002, o projeto que o elaborou remonta à década de 70. Destarte, menciona a incorporação, ao anteprojeto, das novidades trazidas pelo direito digital, que ganha um capítulo totalmente inédito e específico sobre o tema. No que diz respeito ao escopo das sucessões, há a inclusão da chamada “herança digital”, tópico que é fruto do avanço tecnológico e representa desafios na contemporaneidade, ante a ausência de respaldo no ordenamento jurídico.

Uma das atualizações propostas, que acabou sendo rejeitada, diz respeito à terminologia “Direito da Família”. Inicialmente, propôs-se a alteração para “Direito das Famílias”, visando a traduzir a mudança na abordagem do Direito em relação ao tema. “Anteriormente, fala-se em “Direito de Família”, no singular, expressão que se mostrou insuficiente para descrever a complexidade das relações familiares contemporâneas. Diante dessa necessidade de atualização, surge, na doutrina, o termo “Direito das Famílias”, no plural, modificação que, no entendimento jurídico, faz grande diferença, vez que destaca a pluralidade de arranjos familiares e a necessidade de uma abordagem mais abrangente e inclusiva. Esse exemplo é apenas um dos muitos que demonstram as mudanças e tendências trazidas pelas decisões judiciais recentes e pela revisão proposta pelo novo Código Civil”, afirma a advogada. Todavia, a comissão de juristas optou por manter o título como “Direito de Família” no anteprojeto. 

Principais mudanças propostas pelo novo Código Civil:

1 – Ampliação do conceito de família

O conceito de família do anteprojeto passou a prever os vínculos não conjugais, chamados de parentais, para garantir a reciprocidade de deveres entre grupos que possuem a relação baseada no afeto, para além da consanguinidade. É o caso, por exemplo, das famílias anaparentais, monoparentais e multiparentais, ou mesmo aquelas formadas por vínculos socioafetivos.

2 – União estável como estado civil

A proposta prevê a ampliação da regulação sobre a união estável, que sequer possuía uma classificação de estado civil para as pessoas que vivem sob esse regime conjugal. A ideia é que as omissões sejam supridas e quem opte por viver em união estável passe a ser reconhecido como “convivente”, o que trará maior segurança jurídica nas relações negociais e empresariais. O anteprojeto também prevê a alteração do regime de bens de forma mais célere em cartório, não precisando de autorização judicial prévia, tanto para casamento, quanto para união estável, como ocorre na legislação atual.

3 – Casamento ou união entre pessoas do mesmo sexo

O casamento ou união entre pessoas do mesmo sexo já é reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, desde 2011. Agora, a proposta pretende regulamentar o vínculo conjugal de forma mais abrangente, trazendo-lhe maior segurança jurídica. Um dos maiores avanços da reforma foi justamente a retirada da expressão “homem e mulher” e substituição por “duas pessoas”, para garantir a concessão dos direitos de família, independentemente de gênero e orientação sexual.

4 – Divórcio unilateral ou em positivo

Apesar da jurisprudência atual, o divórcio em caráter liminar ainda depende da ação judicial com demonstração de urgência. Já o projeto do novo Código Civil admite essa possibilidade independentemente da demonstração de urgência, mediante simples notificação do outro cônjuge. Além disso, permite o divórcio extrajudicial mesmo no caso de filhos menores, evitando ações judiciais meramente homologatórias da vontade das partes e incentivando a utilização dos cartórios.

5 – Mudança no reconhecimento oficial da paternidade

Atualmente, quando o pai não reconhece o filho no registro de nascimento, o cartório inicia um procedimento para investigação da paternidade com a participação do Ministério Público e do juiz. A mudança proposta é que, caso o pai não reconheça o filho no momento do registro de nascimento, o suposto pai indicado pela mãe seja notificado diretamente pelo cartório para realizar o exame de DNA. Se não comparecer ou se recusar a realizar o DNA, será registrado como o pai da criança. Destaca-se, ainda, a maior facilidade no reconhecimento da paternidade socieoafetiva com o novo texto previsto para o Código Civil.

6 – Alimentos gravídicos

O anteprojeto também acrescenta ao Código Civil o direito da gestante aos alimentos gravídicos, ou seja, ao recebimento de pensão alimentícia do suposto pai para pagamento das despesas da gestação. A proposta deixa claro que os alimentos são devidos desde o início da gravidez, mesmo que a gestante demore para ajuizar a ação.

7 – Reprodução assistida

Essa matéria é regulamentada, hoje, pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Nacional de Justiça por meios administrativos, o que traz insegurança jurídica e torna necessário o ajuizamento de ações para efetivação dos direitos. O projeto prevê a inserção no Código Civil das normas relativas à reprodução assistida, o que permitirá que o Oficial de Registro Civil realize o registro de nascimento da criança em nome dos autores do projeto parental. Dentre as principais mudanças, está a vedação de comercialização de material ou mesmo da “barriga de aluguel”, que passa a ser autorizada de forma mais ampla, mas ainda com regramento específico. Ainda, permitiu-se o uso de material genético para reprodução post mortem, desde que expressamente autorizado em registro público e com direito à herança, se realizada em até cinco anos após a morte.

8 – Exclusão de cônjuges do rol de herdeiros necessários

Na legislação atual, os herdeiros necessários são os descendentes, os ascendentes e os cônjuges, mas com a aprovação do anteprojeto, os últimos podem ser excluídos desta lista. A depender do regime de bens, o cônjuge ou companheiro pode ter direito à meação, além de poder constar no testamento do parceiro conjugal. Todavia, com a exclusão do rol de herdeiros necessários, passa-se a vislumbrar maior autonomia na disposição sobre o planejamento sucessório, no que diz respeito à parte disponível da herança. Além disso, o anteprojeto revoga a previsão de reserva de um quarto da herança de bens particulares pelo cônjuge ou companheiro. 

9 – Direito dos animais

Os animais são tratados no Código Civil atual como coisas, equiparando-se a propriedades. A proposta dedica novos dispositivos aos direitos dos animais, passando a ter sua natureza jurídica como seres sencientes, com capacidade de sentir e com direito à dignidade. Dessa forma, o texto inclui o vínculo afetivo entre pessoas e animais, o qual caracteriza a chamada “família multiespécie”, que prevê direitos e deveres compartilhados entre os tutores.

10 – Herança digital

Por fim, foi aprovado o direito à “herança digital”, isto é, a sucessão dos bens digitais que possuem valor economicamente apreciável. Entra nessa categoria o patrimônio intangível do falecido, abrangendo, entre outros, senhas, dados financeiros, perfis de redes sociais, contas, arquivos de conversas, vídeos e fotos, arquivos de outra natureza, pontuação em programas de recompensa ou incentivo e qualquer conteúdo de natureza econômica, armazenado ou acumulado em ambiente virtual, de titularidade do autor da herança. Por outro lado, o sigilo das comunicações online deve ser mantido, salvo vontade expressa do falecido ou sentença judicial.

  • Por Eloise Caruso Bertol – advogada especialista em Direito de Família.
  • Fonte: https://www.jornaljurid.com.br/noticias/10-mudancas-propostas-pelo-anteprojeto-do-codigo-civil-que-impactam-o-direito-das-familias-e-sucessoes
Presidente concedeu entrevista a emissoras de rádio

07/05/2024

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (7) que quer negociar com empresários a desoneração da folha de pagamento. A declaração foi feita em entrevista a emissoras de rádio durante o programa Bom Dia, Presidente, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

“O empresário quer reduzir o que ele paga. Ele vai transformar isso em empregos novos? Ele vai transformar isso em aumento do salário? Ele vai transformar isso em estabilidade? Desoneração, do jeito que eles querem, é só para aumentar o lucro. É isso o que eles querem. Nós queremos que tenha contrapartida.”

Segundo Lula, o governo decidiu pedir a suspensão da desoneração da folha ao Supremo Tribunal Federal (STF) no intuito de chamar os empresários dos setores envolvidos para sentar à mesa e negociar: “que cada empresário diga o que vai fazer”.

“Esse negócio de dizer que é para manter emprego, ninguém garante que mantém emprego. Qual é o contrato que diz que ele vai garantir emprego? Quem é que diz que, na primeira crise, ele não manda gente embora? Não tem nada escrito. O que nós queremos é apenas seriedade dos empresários.”

*Por Paula Laboissière e Pedro Peduzzi – Repórteres da Agência Brasil – Brasília

Fonte: Agência Brasil

Issues with the summer harvest and declining grain prices have caused producers to delay purchasing agricultural inputs

05/06/2024


Eduardo Monteiro — Foto: Divulgação

Eduardo Monteiro — Foto: Divulgação

Issues with the 2023/24 summer crop and declining soybean and corn prices have caused Brazilian farmers to delay both the sale of their produce and the purchase of fertilizers for the upcoming season.

Despite a slight increase in input sales between March and April, notable delays continue. An agricultural input retailer in São Paulo noted that sales were about 30% below what was expected for the region by the end of April. Farmers are focusing more on repaying debts incurred from planting soybeans and off-season corn than on acquiring fertilizers for the next planting cycle.

At last week’s Agrishow, an agricultural technology fair, the Norwegian company Yara reported a 10-percentage-point decrease in this year’s fertilizer sales compared to previous years. By the end of April 2024, the market had only secured about 40% of the anticipated annual volume of fertilizers, which is less than the 50% achieved during the same period in 2023.

Guilherme Schmitz, the market development director at Yara Brasil, explained, “Many producers are speculating that fertilizer prices will drop and agricultural commodity prices will rise. However, this gamble could significantly strain logistics, especially considering Brazil’s vast geography, the known bottlenecks in the sector, and the large volume of fertilizers expected to be needed this year.”

Estimates indicate that the total volume of fertilizers needed in Brazil for 2024 could reach 46 million tonnes. The National Association of Dissemination of Fertilizers (ANDA) is set to release an updated survey on this matter soon.

Eduardo Monteiro, the country manager for Mosaic, shared his concerns at an event in Ribeirão Preto. He warned that a surge in fertilizer deliveries could heavily burden Brazil’s logistics infrastructure. He explained, “Brazil is already dealing with logistical bottlenecks. With the anticipated rush, freight costs are likely to rise, leading to longer queues at ports and increasing demurrage costs, all of which could complicate the delivery process significantly.”

Mr. Monteiro, who chairs ANDA, highlighted an additional factor: geopolitics, especially regarding the conflict between Russia and Ukraine. He pointed out the growing risk of impacts on prices and supplies as tensions escalate. “The risk is real and immediate, particularly if, due to the war, Russia cuts off supply of 35% of the global chloride. A week might be manageable, but not a month. And producers cannot be compensated in such force majeure situations caused by war,” he explained. He also noted that Brazil’s dependency on importing approximately 85% of the fertilizers used domestically exacerbates the situation.

*Por Cassiano Ribeiro — Ribeirão Preto

Source: Valor International

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External and local worsening increases bets that Central Bank will slow down the monetary easing cycle

05/06/2024


Fernando Honorato — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

Fernando Honorato — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

The change in communication by the president of the Central Bank, Roberto Campos Neto, given the worsening external scenario and the perception of increased domestic fiscal risks in April has driven the financial market to bet that the Monetary Policy Committee (COPOM) will slow down the pace of interest rate cuts at Wednesday’s meeting. The scenario of slower monetary easing has already been adopted by two-thirds of market participants, according to a survey carried out by Valor.

Among the 118 financial institutions consulted by Valor, 78 expect a 25-basis-point cut in the Selic policy rate, while another 40 still see room for a 50-bp reduction.

The most recent number shows an increasing trend, in recent days, of projections that include a smaller interest rate cut. In Valor’s previous survey, carried out between April 18 and 19—after Mr. Campos Neto’s change in tone—54% of market participants saw a cut of 50 bp, while 46% projected a reduction of 25 bp.

April was marked by a significant worsening of the external environment. Inflation data above consensus estimates in the U.S. and resilient economic activity numbers pushed forward bets on interest cuts by the U.S. Federal Reserve. Moreover, the escalation of geopolitical tensions bolstered the dollar and oil prices, heightening agents’ pessimism regarding the disinflation process ahead.

Additionally, the Brazilian government’s announcement of a review of fiscal targets increased the perception of risk surrounding the debt trajectory, contributing to the foreign exchange rate reaching R$5.3 per dollar.

Amid the deterioration of the scenario expected by the COPOM, Mr. Campos Neto went public in mid-April and outlined the possibilities for the next policy meeting. In practice, the communication served to abandon the indication issued in the March decision that a further 50-bp cut was considered appropriate. This scenario would only return to the table if uncertainty was reduced.

In recent days, however, some relief abroad brought this possibility of a 50-bp cut back onto the radar and further intensified the market division concerning Wednesday’s decision.

“According to our model that replicates that of the Central Bank, any worsening in the exchange rate and inflation expectations tend to be offset by a higher Selic in Focus,” said Bradesco’s chief economist, Fernando Honorato, citing the monetary authority’s weekly survey with analysts. “This should maintain the COPOM’s 2025 inflation projection at more or less 3.2%, which would not represent a sharp worsening of the scenario expected by the policymakers.”

In addition, in recent weeks, current inflation in Brazil has shown positive surprises, with core indicators remaining subdued. Thus, despite the factors indicating that there would still be room for a 50-bp cut, the COPOM is likely to deliver a more modest reduction in interest rates, in the economist’s view.

“The Central Bank’s communication led the market to believe that it prefers a 25-bp cut. I understand the 25-bp level as a tactical option to buy time as the global scenario has changed and the Fed’s interest rate cuts have been postponed. But the Central Bank should continue to indicate that there is still room for monetary easing. It wouldn’t make sense for it to cut 25 bp and send a signal that the cycle is coming to an end. There is still room for more monetary easing,” said Mr. Honorato.

The chief economist at Banco BV, Roberto Padovani, argues that the “last mile” of the global disinflation process should cause costs to the activity. This suggests a potential slowdown in the U.S. economy due to monetary constraints. Coupled with sluggish growth in Asia and Europe, it could lead to lower commodity prices.

“Furthermore, we believe that the real interest rate in Brazil is excessively high, and we see no reason to slow down the pace of cuts at this time. As the global environment is disinflationary, the risks are lower,” said Mr. Padovani, who maintains a 50-bp cut as his baseline cenario.

According to Ivo Chermont, the chief economist of Quantitas, the Central Bank has strongly suggested that it will cut the Selic by 25 bp. “Campos Neto did not appear relaxed at all about the fiscal situation, and there have been no recent changes on that front. The exchange rate volatility regime has shifted, making it impossible to trust that the current screen price is the new normal, and that reflects the global scenario’s volatility. Additionally, inflation expectations have increased, which is likely to concern the Central Bank even more. Why would Campos Neto take the cost of being tough and give a 50-bp cut?” said Mr. Chermont.

*Por Gabriel Roca, Victor Rezende — São Paulo

Source: Valor International

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Electric and hybrid cars dominate; the total is more than 5 times the amount in the first quarter of 2023

05/06/2024


Welber Barral — Foto: Wenderson Araujo/Valor

Welber Barral — Foto: Wenderson Araujo/Valor

The schedule for increasing import tariffs on electric and hybrid vehicles brought forward the shipment of cars from China to Brazil at the beginning of 2024. China exported $589.9 million in cars in January and February to Brazil. In March, the pace accelerated and there was another $580 million, totaling $1.17 billion in the first quarter of this year, more than half the total sold by the country to Brazil in the whole of last year and more than five times the amount of $239.42 million exported in the same months of 2023, according to China’s General Administration of Customs.

In the first two months of this year, Brazil was ranked as China’s fifth destination for passenger cars shipped, compared to the 19th position held in the first two months of 2023. With the numbers of March, Brazil rose to fourth place in the first quarter, behind Russia, Belgium, and the UK, surpassing Mexico by little difference, of less than $50 million.

In March alone, Brazil was the third largest buyer of cars from China, behind only Russia and Belgium. Of the total China shipped to Brazil in the first quarter, 40.9% were electric cars, and at least another 36.8% were plug-in hybrids, which can be recharged using domestic sockets or fast-charging stations.

Although the accelerated shipment of Chinese cars to Brazil can be explained by the schedule of rising import rates and the pace of these exports will likely adjust as taxes rise, experts do not expect a sharp drop ahead.

“What we see now is a movement to bring forward shipments. After this period will there be a relevant drop in these exports? Probably not,” said Livio Ribeiro, a partner at BRCG and researcher at the Fundação Getulio Vargas’s Brazilian Institute of Economics (Ibre-FGV). In his opinion, the current trend should be seen as part of a broader plan, which includes Chinese automakers’ production in Brazil.

According to Tulio Cariello, director of content and research at the Brazil-China Business Council, the rise in Chinese car shipments to Brazil is part of a typical long-term strategy. “The Chinese know that their vehicles are part of a growing niche market. They want to build this market and position their product, which comes together with the arrival of Chinese automakers, such as GWM and BYD, in Brazil,” he said.

Since January, the arrival of electric and hybrid cars has been subject to import tax in Brazil. According to the schedule set by the Brazilian government, taxes will gradually increase until they reach 35% in July 2026. For electric cars, the tax rate is now 10%. For hybrids and plug-in hybrids, it’s currently 15% and 12%, respectively. In July, the rates will increase to 18% for electric vehicles, 25% for hybrids, and 20% for plug-in hybrids.

There are also quotas for a tax exemption cap, which have been defined for each company and will gradually decrease until they are removed, starting from July 2026. The global quota for electric cars, for example, started at $283 million until June 2024, will fall to $226 million by July 2025, and then there will be a final period with a limit of $75 million until July 2026.

As it takes 45 to 60 days for cars leaving China to arrive in Brazil, some of the vehicles shipped have not yet disembarked in Brazilian territory. Statistics from the Secretariat of Foreign Trade (SECEX/MDIC) indicate that from January to March Brazil imported $569.9 million in cars from China.

Mr. Ribeiro points out that Chinese automakers have likely been operating with low profit margins and may have room to absorb part of the higher taxes without losing too much market share. “As Chinese cars are entering a niche market, the price elasticity tends to be lower but the tax rate is not small,” he said.

Taxation on imported electric and hybrid cars since January 2024 is the result of a response by traditional automakers in Brazil to the increasing arrival of these cars from China. Data from China’s customs indicate passenger car shipments to Brazil started last year at $71.5 million in January, plus $63.12 million in February. In March, exports reached $104.8 million, and the growth trend became clearer in the second half of the year.

According to the Chinese government, Chinese car shipments to Brazil ended last year at $2.11 billion, almost four times the amount of $553.59 million seen in 2022. According to SECEX/MDIC figures, Chinese car sales to Brazil accounted for approximately 40% of the total imports by the country from January to March, surpassing Argentina, which has been Brazil’s longtime supplier.

Electric and hybrid cars, imported or not, are expected to remain the target of debates in Brazil. In the supplementary bill 68/2024, on the regulation of tax reform on consumption, the government proposes that vehicles be subject to the Selective Tax, a new tax on goods and services that are considered harmful to health or the environment. Under the proposed bill, light commercial vehicles regarded as sustainable cars will have zero rates. For a vehicle to be considered sustainable, it will be inspected according to its carbon dioxide emissions, recyclability, category, and completion of manufacturing stages in Brazil.

The proposal has generated criticism involving possible regressive tax as electric cars are not affordable to the Brazilian population.

Welber Barral, a partner at BMJ and a former secretary of foreign trade, says the issue is likely to generate a battle. “There is no consensus on this subject among traditional Brazilian manufacturers,” he said.

He points out that the debate on energy transition involving cars faces huge pressure to stimulate ethanol, as the biofuel is a large, traditional project and, therefore, cannot simply be abandoned.

*Por Marta Watanabe — São Paulo

Source: Valor International

https://valorinternational.globo.com/

A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em decisão unânime, negou o pedido de habeas corpus para anular a condenação de um homem pelo crime de estupro de vulnerável. O colegiado reafirmou o entendimento estabelecido na Súmula 593 do STJ, que considera irrelevantes, para a caracterização desse crime, o eventual consentimento da vítima, sua experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso com o réu.

06.05.2024

Na origem do caso, um homem – com 20 anos de idade na época dos fatos – foi processado por ter submetido uma menina de 13 anos a relações sexuais, das quais resultou uma gravidez. Embora alegasse estar em relacionamento amoroso com a vítima, o homem fora alertado pela família da menina a se afastar, o que não ocorreu, tendo sido necessário o acionamento do conselho tutelar do estado.

O juízo de primeira instância relativizou a vulnerabilidade da vítima por entender que a menina teria dado consentimento às práticas sexuais, negando, por isso, ter havido violência. O juízo também afirmou que condenar o réu prejudicaria o desenvolvimento da família recém-formada e decidiu absolvê-lo. O tribunal estadual, por outro lado, aplicou o entendimento sumulado pelo STJ e reformou a sentença. Para a corte, o homem, ciente da conduta criminosa, seguiu praticando as ações de forma deliberada, ignorando as advertências para se afastar da menina.

No habeas corpus, a defesa sustentou que a idade não poderia ser o único critério para caracterizar a violência sexual. Ela afirmou que o consentimento deveria ser considerado para excluir a figura do estupro de vulnerável e que a constituição de família seria elemento fundamental para a análise do caso. Disse ainda que o réu sempre desejou registrar a criança, mas a família da menina não lhe permitiu a aproximação.

Avaliação subjetiva sobre vulnerabilidade da vítima é incabível

O relator do caso no STJ, ministro Rogerio Schietti Cruz, citou precedente de sua relatoria, julgado na Terceira Seção sob o rito dos recursos repetitivos, que sedimentou na jurisprudência a presunção absoluta de violência em qualquer prática sexual com pessoa menor de 14 anos.

Para o ministro, o entendimento jurisprudencial – expresso na Súmula 593 – é incontroverso, não cabendo ao magistrado a avaliação subjetiva sobre a vulnerabilidade da vítima. Compreensão diversa, segundo ele, faria a análise se desviar da conduta delitiva do acusado, direcionando-se à apreciação sobre a vítima merecer ou não a proteção jurídico-penal.

Quanto ao alegado consentimento, Schietti afirmou que a imaturidade psíquica e emocional de uma pessoa menor de 14 anos não permite o reconhecimento válido da vontade, seja para consentir livremente com o ato sexual, seja para, posteriormente, decidir se o réu deve ou não ser processado.

O ministro disse ainda que o nascimento de uma filha tornou a conduta do réu mais grave, porque impôs a maternidade à vítima, conferindo-lhe responsabilidades de uma pessoa adulta, para as quais não está preparada. A gravidez – explicou o relator – não diminui a responsabilidade penal do réu; ao contrário, aumenta a reprovabilidade da ação, conforme estabelece o artigo 234-A, III, do Código Penal.

O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial.

Fonte: STJ

As transações tributárias foram responsáveis por quase metade dos valores recuperados pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) no ano passado, segundo dados da Advocacia-Geral da União.

06/05/2024

AGU recuperou R$ 62,7 bilhões em 2023, 6,3% a mais do que no ano anterior

Foram obtidos dessa maneira R$ 20,7 bilhões dos R$ 48,3 bilhões recuperados pela PGFN em 2023 (42,8% do total). Esse valor é 46,8% maior do que o do ano anterior, quando foram recuperados R$ 14,1 bilhões via transações tributárias.

O maior acordo foi firmado em agosto, com um grupo empresarial produtor de cimento. Só nessa transação, foram regularizados R$ 11 bilhões, sendo R$ 270 milhões referentes a créditos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Segundo a PGFN, além das transações, o aumento do montante recuperado se deu por meio do aprimoramento da análise financeira do perfil do contribuinte. Com isso, foi possível priorizar as execuções dos devedores com maior capacidade de pagamento.

Ao todo, a AGU recuperou R$ 62,7 bilhões em 2023, 6,8% a mais do que no ano anterior, quando foram recuperados R$ 58,7 bilhões.

“Veio pra ficar”

A transação tributária permite que devedores façam acordos para quitar seus débitos. Essa possibilidade passou a valer com a Medida Provisória 889/2019, que posteriormente foi convertida na Lei 13.988/2020.

Em entrevista publicada pela revista eletrônica Consultor Jurídico em novembro do ano passado, o procurador da Fazenda Nacional João Henrique Chauffaille Grognet disse que a transação se tornou a política pública mais eficaz para recuperar valores sem litígios.

Para Pedro Corino, CEO da Sociedade São Paulo de Investimentos, as transações vieram para ficar, e em pouco tempo já se mostraram um mecanismo eficiente para garantir o pagamento de dívidas e a continuidade de empresas.

“A transação tributária tem se consolidado como um método bem eficiente para resolver disputas fiscais sem recorrer a um processo judicial prolongado. É uma ferramenta que envolve negociação direta entre o contribuinte e autoridades fiscais e busca solucionar débitos tributários por meio de concessões bilaterais.”

Segundo Corino, a tendência é que a transação tributária cresça nos próximos anos, uma vez que se mostrou um método bastante razoável para, por um lado, desafogar o Judiciário e, por outro, permitir que empresas com multas elevadas paguem suas dívidas.

“É claro que o governo nunca vai poder abrir mão de aplicar certas multas, porque caso contrário ele desincentiva o pagamento regular. Mas esses grandes programas de transação tributária que estão sendo feitos são extremamente importantes para possibilitar a volta dos desenvolvimentos no Brasil”, concluiu o advogado.

PGF

Fora do âmbito da PGFN, outro órgão da AGU que arrecadou mais em 2023 do que em 2022 foi a Procuradoria-Geral Federal (PGF). Responsável pela cobrança de valores devidos a autarquias e fundações públicas federais, a PGF recuperou R$ 7,5 bilhões no ano passado, ante R$ 7,2 bilhões em 2022.

Esse valor inclui desde multas aplicadas por entidades como agências reguladoras e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) até ações regressivas trabalhistas.

Um dos casos mais importantes envolveu a Unimed Rio. Foram R$ 211 milhões pagos em multas aplicadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Já a arrecadação na Justiça do Trabalho decorrente de contribuições devidas ao INSS e não recolhidas dentro do prazo por empregadores foi de R$ 515 milhões.

Em dívida ativa e demais fontes, o que compreende a arrecadação decorrente de multas aplicadas pelas autarquias, foram recuperados R$ 110,4 milhões em 2023.

Em ações regressivas, a PGF arrecadou R$ 65 milhões no ano passado. Essas ações pedem que responsáveis por acidentes que resultam em pagamento de pensões aos acidentados ressarçam o INSS pelos gastos. A medida é prevista na Lei 8.123/1991.

Ações civis públicas e renegociações

No âmbito da Procuradoria-Geral da União (PGU), foi recuperado R$ 1,9 bilhão. O órgão é responsável pela cobrança de créditos não tributários da União e causas relacionadas a probidade administrativa, ações civis públicas e renegociações com empresas que provocam prejuízo ao erário.

A PGU concluiu em 2023 um conjunto de alienações judiciais de dezenas de ativos que pertenciam a João Arcanjo Ribeiro, apontado como líder do crime organizado em Mato Grosso. Ele foi condenado por formação de quadrilha, operação ilegal de instituição financeira, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Os ativos totalizam mais de R$ 260 milhões e foram declarados perdidos em favor da União. O último leilão, de um condomínio de apartamentos no valor de R$ 15,6 milhões, ocorreu em junho de 2023.

Também em matéria de combate à corrupção, a PGU obteve no Tribunal Regional Federal da 1ª Região um acórdão que permitiu a retomada da execução da dívida do Grupo OK. O valor ultrapassa R$ 800 milhões.

Contencioso

Já a Secretaria-Geral de Contencioso (SGCT) atuou na homologação de um acordo que evitou gastos de R$ 18 bilhões por causa da perda arrecadatória dos estados com o ICMS.

A atuação se deu na ADI 7.191 e na ADPF 983, que questionavam no Supremo Tribunal Federal a Lei Complementar 194/2022, responsável por limitar a alíquota do ICMS de combustíveis.

O órgão também obteve decisão favorável na STP 976, que impediu o pagamento de R$ 5 bilhões na expedição de precatórios antes do trânsito em julgado.

A SGCT também informou à ConJur que foram economizados cerca de R$ 845 milhões em acordos com Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão envolvendo o recálculo de valores devidos.

  • Por Tiago Angelo – correspondente da revista Consultor Jurídico em Brasília.
  • Fonte: Conjur